quarta-feira, 20 de maio de 2015

A Bênção de não Possuir Nada

Capítulo 2 - Parte I

"Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus." (Mt 5:3)

   Antes de o Senhor Deus criar o  homem sobre a face da terra, primeiramente preparou tudo para ele, criando inúmeras coisas úteis e agradáveis, para seu sustento e deleite. Foram feitas para serem utilizadas pelo homem, mas deviam sempre ser exteriores ao homem, e subservientes a ele. Isso porque, no mais recôndito do seu coração, havia um santuário que somente Deus era digno de ocupar.    Dentro do homem achava-se Deus; e  fora, milhares de dons que o Senhor derramara sobre ele, como chuva.
   O pecado, entretanto, trouxe complicações, e transformou esses dons de Deus em potenciais de ruína para a alma.
   Nossos "ais" tiveram começo quando o homem forçou Deus a sair de seu santuário central, e deu permissão às "coisas" de ali penetrar. Uma vez dentro do coração humano, as "coisas" passaram a imperar. O homem, por natureza, não mais goza de paz em seu coração, pois Deus não se acha mais entronizado ali; pelo contrário, na obscuridade moral da alma humana, usurpadores teimosos e agressivos lutam entre si, procurando ocupar esse trono.
   Dentro do homem há um coração empedernido cuja natureza e intento é sempre possuir, possuir. Ele ambiciona as "coisas", com um desejo arraigado e feroz.
   Os pronomes "meu" e "minha" parecem perfeitamente inocentes quando impressos no papel, mas o seu emprego constante e universal é muito significativo. Expressam a natureza real do velho homem adâmico melhor do que mil volumes de teologia. São sintomas verbais de nossa alma enferma. As raízes do nosso coração penetram fundo nas "coisas", e não ousamos arrancar nenhuma delas, com receio de morrer. As coisas se tornaram necessárias para nós, de um modo que jamais foi da intenção de Deus. Aqueles dons, portanto, tomaram um lugar que, de direito pertence a Deus, e todo o curso da natureza é transformado por essa monstruosa substituição.
   O Senhor Jesus referiu-se a essa tirania das coisas quando disse aos seus discípulos: "Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a cruz e siga-me. Portanto, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a vida por minha causa, achá-la-á" (Mt 16:24,25)
   Em sua caminhada para um conhecimento mais profundo de Deus, o homem atravessa os vales solitários da pobreza e da renúncia a todas as coisas. Os que alcançaram a bênção de possuir o Reino são aqueles que rejeitaram todas as coisas materiais, desarraigando do coração todo sentimento de posse. São os "humildes de espírito". Os pobres bem-aventurados são aqueles que já não são mais escravos das coisas, pois quebraram o jugo opressor; e o conseguiram, não lutando, mas entregando tudo ao Senhor. Embora libertos do sentimento de posse, contudo, possuem tudo: "Deles é o reino dos céus".




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