quarta-feira, 14 de março de 2012

Capítulo 1 - UM LAR NAS SELVAS

Bobby e eu encontramos Ayaboquina, um chefe índio dos motilones, sozinho lá na clareira nas selvas, no topo do penhasco. Enquanto conversávamos com Ayaboquina a respeito do progresso que os índios estavam fazendo, ouvimos o barulho de um barco a motor no rio, logo abaixo. Estava muito junto à margem para que pudéssemos vê-lo, mas pudemos ouvir quando ancorou.
_ Boa tarde - disse asperamente em espanhol.
Estava sem fôlego e esperou impacientemente enquanto eu continuava conversando com Ayaboquina. Vi, pelo rabo dos olhos, que era Humberto Abril, um dos foragidos que se haviam estabelecido naquela área. Eu sabia que ele tinha um mau gênio e que havia ameaçado os motilones. Agora, obviamente, estava enfurecido.
Quando terminei a minha conversa com Ayaboquina, repondi: _ Boa tarde, Humberto.
Ele suava profusamente, e gotas enormes de suor caíam de seu rosto encovado, o qual estava contorcido de tal forma que me deixava apreensivo.
_ Eu vim aqui para dizer-lhes que saiam dessa terra - disse ele. _ Esta terra é minha. Eu sou um colono colombiano. Tenho o direito de exigir terra para colonizar, e estou exigindo estas terras. Vocês podem sair!
Falava comigo, mas Bobby interrompeu.
_ Eu tenho algo a dizer _ Ele falava lenta e calmamente, porém com grande ênfase. _ Esta terra é nossa. Sempre foi nossa terra. E sempre será a nossa terra. Nós já cedemos uma parte de nossas terras a você, de acordo com a sua exigência, e o que foi que você fez? Você as vendeu, e agora está exigindo mais ainda. Mas nós não daremos mais nada. Nós protegeremos aquilo que é nosso.
Humberto pegou Bobby pelos ombros e gritou:
_ Estas são minhas terras. Elas são minhas. Todo mundo pode sair delas _. Depois, então, soltou Bobby e ficou ali tremendo.
O medo começou a percorrer-me a espinha, como gelo. Mas Bobby estava seguro de si mesmo.
_ Você se engana. Estas terras não lhe pertencem. Elas não lhe pertencerão _ disse ele calmamente.
_ Cale a boca! _ gritou Humberto. _ Cale a boca, índio sujo. Cale a boca!
_ Por Deus  - disse ele, beijando nos dedos e cuspindo no chão. _ Por todos os santos - e cuspiu novamente, balançando a cabeça tão violentamente, que mais parecia um espasmo do que um movimento consciente. _ Em nome da Virgem Mãe _. Pela terceira vez ele cuspiu. _ E  por essa cruz _. Ele tornou a cuspir, e então, olhando diretamente para nós, levou o seu polegar e indicador à boca e os beijou. A sua voz se tornou gutural: _ Eu te matarei!
E então Ele gritou: _ "Juro por esta cruz que eu te matarei!"

(Continua...)

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