_ Você está certo, Bruchko.
_ E o que é que poderemos fazer a esse esse respeito?
Ayaboquina, Bobby e eu pensamos em algumas precauções de segurança.
Mas Bruchko - disse Bobby - , não há nenhuma segurança perfeita nessas medidas. Somente Deus é que nos pode ajudar.
E então, nós três curvamos as nossas cabeças e juntos falamos com Deus. Enquanto fazíamos, o meu temor foi substituído pela alegria _ que me invadira quando pela primeira vez vira Bobby naquela manhã. Ela se espalhara pela minha alma, indo até o meu estômago. No entanto, não era a mesma alegria. Era muito mais profunda, como se a dor e o perigo e o temor tivessem sido injetados nela, tornando-a muito mais profunda e sensível.
Quanta coisa havia acontecido naquelas poucas horas desde que meu avião sobrevoara a cidade de Rio de Ouro, para poder aterrizar.
Lembrei-me, então, que justamente a dez anos antes, não havia casa alguma, senão árvores frondosas, bloqueando o sol, e a folhagem densa sob elas. Talvez um papagaio tivesse gritado comigo. Agora, no mesmo lugar, havia uma pequena cidade.
Um jato de alegria se apoderou de mim, não por causa da cidade, mas porque estava voltando dos Estados Unidos e logo estaria junto com Bobby, o meu irmão de pacto. Grudei os olhos à janela, tentando ver adiante do avião, e as minhas emoções cresciam de meu estômago para as minhas costas, num arrepio.
À medida que o velho e gasto DC-3 perdia altura, as árvores estavam tão perto do corpo do avião que davam a impressão de que certamente as rodas as tocariam. Mas, repentinamente houve uma abertura na folhagem, e estávamos sobre uma clareira - uma longa pista estreita, cortada nas selvas.
Enquanto éramos levados até o fim da pista, os meus olhos buscaram a Bobby entre as pessoas que estavam ali. Não podia vê-lo. Mas, ao descer a rampa, eu o vi, um pouco afastado; o seu rosto era mais escuro do que o das outras pessoas que estavam aguardando a chegada do avião, mas mesmo assim, lá da rampa, podia ver os seus dentes brancos cintilando. Era um sorriso que dizia: "Você voltou novamente, Bruchko, e como isso é bom." Ele nunca usava o meu nome norte americano, Bruce.
Bobby conversou sobre a sua família. Ele estava tão feliz quanto eu podia me lembrar de vê-lo assim. Os seus olhos escuros estavam brilhando. Eu me preocupara com ele depois que sua filha falecera, porque durante algumas semanas ficara amuado, não se comunicando. agora, parecia que não podia parar de sorrir.
Depois de apanharmos a bagagem, decidimos comer algo. Eu não comera coisa alguma no avião, e Bobby riu da maneira como me fartava das guloseimas colombianas.
_ Você terá um estômago bem cheio daqui em diante, Bruchko - disse ele.
Eu sabia o que ele queria dizer... Porque, para um motilone, ter um estômago repleto, quer dizer que não iria querer mais alimento. Significa contentamento, satisfação com a vida, alegria. Ele expressara muito bem a maneira como me sentia.
(Continua...)
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