Lembrei-me de minha classe da Escola Dominical. Conhecia cada um dos alunos. Eu frequentava a igreja com todos eles, toda a minha vida. Eles nunca haviam mudado. Nenhum de nós jamais se transformara.
Sempre houvera muita conversa a respeito de transformação. O ministro nos dissera: "Vocês precisam mudar porque Deus vai amaldiçoar a terra e os seus pecadores. Vocês precisam ser santos, assim como Deus é santo. Isso é o que ele exige de vocês. Tendo pouco de sua perfeição, significa ter pouco de sua eternidade.
E essa maldição me amedrontava. Ás vezes, aos sábados, Kent ia à minha casa e conversávamos a respeito de histórias de terror e de filmes que havíamos visto. Tentávamos nos amedrontar mutuamente, e ríamos e dávamos risadinhas e escondíamos a cabeça embaixo dos travesseiros. Tínhamos prazer em amedrontar-nos. Mais cedo ou mais tarde, estávamos conversando a respeito do julgamento de Deus, sobre o fogo eterno e o céu sendo enrolado como um rolo. E então ficávamos bem quietos. Sabíamos que não era invenção de um diretor de cinema, ou de um escritor. Era algo verdadeiro. Esse fim viria.
Mamãe estava preparando o jantar lá na cozinha, quando cheguei em casa. Fui para o meu quarto e guardei os livros. Então tirei outros livros e os coloquei em minha cama. Tinha uma Bíblia em inglês, um Novo Testamento em grego, e alguns livros que me ajudavam a compreender grego.
Estiquei o corpo magricela na cama. Meus pés projetavam-se sobre os pés da cama. Meus livros formavam um círculo ao meu redor. Isso era o mais próximo do que se poderia chamar de um lar. Eu me sentia confortável no meio deles.
Li até ao entardecer. Minha mãe me chamou para jantar; desci para o círculo silencioso de minha família, ainda pensando sobre aquilo que acabara de ler.
Meu pai observara que eu não proferira palavra alguma.
_ Por que você não contribui com alguma coisa para o bem do resto da família? - perguntou ele. Ele falara com grande precisão.
_ Eu estava pensando a respeito de outra coisa, pai - disse eu.
_ E sobre o que estava pensando?
Olhei para minha mãe meio desamparado. Não desejava ser obrigado a falar.
_ Bruce - disse meu pai _ não olhe para sua mãe _. Sou eu quem está falando com você.
(Continua...)
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